Por Mel Volk
‘Beleza Consciente’: duas palavras que passaram a fazer parte de nosso vocabulário e escolhas.
Com diversos subsegmentos, conceitos e nomenclaturas – orgânico, natural, vegano, limpo, etc, etc, etc – passei a utilizar o termo “beleza consciente” há alguns anos. Achei que resumia bem tudo o que estava vendo e vivendo no mundo da beleza. Conversando com outras pessoas do mercado, que estavam passando pelo mesmo desafio, nos pareceu o nome mais honesto, coerente e que resumia bem a realidade do setor e passamos a adotá-lo como uma categoria.
Mas afinal, o que exatamente é “beleza consciente”? O movimento que leva em consideração os ingredientes e matérias-primas, produção, mão de obra, testes e embalagens em cosméticos, vem ganhando força nos últimos anos no Brasil. Muito difundido mundo afora, a “beleza consciente” vai muito além dos produtos em si.
As rotinas de beleza se transformaram em rituais de bem-estar. A individualidade e a valorização dos traços de cada pessoa ganharam espaço e atenção. Além dos animais e do meio ambiente, as pessoas também estão livres de crueldade e a ciência se une à natureza para proporcionar uma gama gigantesca de produtos e atitudes saudáveis ao nosso corpo e emoções.
A origem das matérias-primas e a exploração de recursos naturais, de trabalhadores, de culturas tradicionais são pesquisadas, questionadas e avaliadas.
Os ingredientes e contra-rótulos ganham os holofotes. Queremos saber o que estamos consumindo. Passamos a entender o que nos faz bem e o que não, e passamos a escolher com base em informação e conhecimento. O nosso e dos produtos. Um match que só traz benefícios. E se você ainda não aderiu, fica o convite para testar este universo.
O mercado e seus produtos
Para entender um pouco mais sobre as categorias de produtos que entram no guarda-chuva da “beleza consciente”, voltamos alguns anos, com o então chamado “slow beauty”. O movimento da “beleza lenta” trazia uma volta dos produtos caseiros e os ensinamentos da avó. A natureza acima de tudo, com muitos produtos artesanais e receitinhas de DIY-Do It Yourself (Faça Você Mesma/o na tradução ao português) invadiram as mídias e redes sociais.
Com o passar dos anos e com a biotecnologia a nosso favor, os cosméticos limpos – da beleza limpa, atóxica e biocompatível -, passam a ser uma das grandes apostas para o futuro da beleza. Através dela, são criados em laboratório, ingredientes não nocivos nem à nossa saúde, nem ao planeta e nem aos animais. E com alta performance duradoura e longeva, já que nosso organismo reconhece, aceita e age em conjunto com ativos que fazem nosso próprio corpo trabalhar a nosso favor, ao invés de lutar contra ingredientes tóxicos e nocivos, que simulam e mascaram uma solução rápida e imediata aos olhos, mas extremamente nociva ao nosso organismo. Estamos falando de alta performance de verdade.
Com uma lista de conceitos e nomenclaturas entre estes 2 extremos, trago o “Dossiê da Beleza Consciente”, que você irá acessar mais à frente neste artigo.
Um delicioso caminho ao autoconhecimento
Muito além das características de um produto ou marca, a ‘beleza consciente’ envolve um pensamento mais holístico, que se inicia com o “eu”. Primeiramente, se aceitar com suas características físicas e de personalidade. Se livrar de padrões estéticos, do comparativo com a beleza alheia, aprender a valorizar suas/nossas características e a respeitar as características únicas de cada um. Uma jornada de conscientização e de autoconhecimento. E autoaceitação e autoestima! Tudo começa conosco mesmo, nos conhecendo, nos aceitando. Nossa pele, nosso cabelo, nossa alimentação, nossas atividades e tudo o que fazemos – ou deixamos de fazer – que impacta em nossa beleza física e emocional.
Com uma infinidade de marcas nacionais independentes de beleza – as indie brands – com seus vastos portfólios de produtos, é uma jornada deliciosa desde o pesquisar, a testar, e passar a ser consumidora fiel. O processo todo é prazeroso, porque se cuidar é um grande barato, e conhecer marcas de empreendedoras e empreendedores locais que valorizam nossa cultura ou que trazem novidades interessantes, torna o processo de autoconhecimento muito mais agradável.
É onde a beleza e o bem-estar se encontram. É quando você começa a fazer escolhas mais conscientes e que sejam, de fato, boas para você.
Dossiê da Beleza Consciente
Já que escolher produtos de beleza e cosméticos com consciência é um ato de amor-próprio e amor ao planeta, vamos às suas definições para que possa selecionar com conhecimento e segurança.
Como ouvimos ainda muita confusão em relação a essas definições – vegano se confundindo com natural e vice-versa, por exemplo – resolvemos fazer esse dossiê. E se já está bem claro pra você, você pode compartilhar com aquela pessoa que está em fase de transição e se habituando a esta nova rotina.
1. DIY – Do It Yourself, ou “Faça você Mesm@”
Para uso próprio, sem comercialização, é aquela receita que leva abacate, a casca do mamão e por aí vai. Mas faça com responsabilidade e se certifique que a receita é de fonte confiável, que os alimentos estão frescos e que devem ser utilizados imediatamente. Por não terem conservantes, não é para guardar e usar outro dia. É uso imediato. Mas faça um teste em uma área do braço para se certificar que não te dará nenhuma reação alérgica. Não é porque é natural que não vai causar uma reação. A composição química do alimento pode gerar uma reação alérgica em sua pele. Fique atent@.
2. Artesanal
Muitos produtos e marcas deste universo começaram assim: feitos artesanalmente, para uso próprio, para amigos e familiares. São os produtos “feitos em casa” ou em bancada de laboratório. Estes produtos não possuem registro na Anvisa e, portanto, não podem ser comercializados. Sabemos que existem muitas marcas no mercado sem Anvisa. Mas é lei, e é pela segurança do usuário.
3. Natural
Também chamado de “Green Beauty” ou “Beleza Verde” tem em sua maioria ou totalidade, ingredientes de origem vegetal e mineral. São provenientes de fontes naturais e os produtos são feitos sem ingredientes sintéticos.
Apesar de precisar de registro como todo cosmético, um cosmético “natural” não tem reconhecimento específico pela Anvisa, o que gera muito greenwashing, onde qualquer empresa pode utilizar a palavra “natural” no rótulo, mesmo possuindo ingredientes potencialmente prejudiciais ou “suspeitos” em sua formulação. Por isso, certificadoras privadas como QIMA/IBD e Ecocert passaram a ter um papel relevante no reconhecimento desses produtos no mercado. Aprofundando um pouco mais:
Pelo IBD: Para receber a certificação de Natural, o produto precisa conter no mínimo 95% de ingredientes naturais – o resto da porcentagem deve ser orgânico. Ingredientes naturais são substâncias de origem vegetal, animal (exceto vertebrados), água e sais minerais e suas misturas. Além disso, deve preservar as qualidades originais dos ingredientes, evitando modificar seu estado natural; causar o menor impacto possível ao ambiente (produção, uso e descarte), ter qualidade e rotulagem clara para orientação dos consumidores; não possuir ingredientes testado em animais nem ser produto final testado em animais, não possuir ingredientes de origem animal quando a forma de obtenção estiver relacionada ao dano do animal, não ser prejudicial a humanos. Ou seja, um produto natural será sempre cruelty free, mas não necessariamente vegano. Os produtos ainda devem ser livres de ingredientes etoxilados, processos de sulfonação, fosfatação, alquilação, polimerização; corantes e fragrâncias sintéticas; PEGS; quaternários de amônio; silicones; conservantes sintéticos; derivados de petróleo. Em relação à embalagem, devem utilizar, preferencialmente, ingredientes biodegradáveis, matérias-primas recicláveis e de menor impacto ambiental. PVC e poliestireno são proibidos.
Pela Ecocert: Para a certificação, são considerados ingredientes como água, minerais e ingredientes de origem mineral, como agroingredientes fisicamente e quimicamente processados. Um ingrediente classificado como ‘natural’ pode ser utilizado desde que sejam respeitados os processos químicos e físicos autorizados. Não são permitidos nanomateriais, como fragrâncias e corantes sintéticos, e testes em animais – estes somente são liberados caso não gerem dor e sofrimento ao animal para sua extração. Para certificar os cosméticos orgânicos também como naturais, eles precisam ter 20% de ingredientes orgânicos na composição. As embalagens também estão entre os requisitos para a certificação e as empresas somente poderão usar as que podem ser recicladas.
4. Orgânico
Funciona mais ou menos como nossa salada: o orgânico é basicamente aquele que não tem agrotóxico.
Pelo IBD: Deve possuir, no mínimo, 95% de matérias-primas naturais certificadas como orgânicas, cuja plantação e colheita não agridem o meio ambiente, são livres de agrotóxicos, agentes químicos e organismos geneticamente modificados (GMO). Os 5% restantes podem ser compostos por água e outras matérias-primas naturais.
Pela Ecocert: O produto precisa ter 95% ou mais de ingredientes orgânicos em sua composição. Para produtos com 70% a 95% de ingredientes orgânicos, o rótulo deve apresentar os dizeres ‘Produto com ingredientes orgânicos’. Orgânicos são produzidos com base na sustentabilidade e sua matéria-prima é proveniente de uma agricultura sem uso de pesticidas ou organismos geneticamente modificados e não podem conter substâncias químicas sintéticas suspeitas ou prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. As embalagens também estão entre os requisitos para a certificação e as empresas somente poderão usar as que podem ser recicladas.
5. Vegano
São produtos que não contêm produtos/ingredientes ou subprodutos de origem animal e que não foram testados em animais, inclusive seus ingredientes. Uma curiosidade: O selo Vegan é um padrão vegano internacional e é administrado pela The Vegan Society; a instituição de caridade que criou a palavra ‘vegano’ em 1944. Sua equipe vegana verifica cada aplicação de produto de acordo com os seguintes critérios: ingredientes de origem animal, teste animal, GMO (organismos geneticamente modificados), cozinhas e padrões de limpeza.
Mas atenção! Aqui não falamos nada em relação a outros tipos de ingredientes, ou seja, um produto vegano pode estar cheio de ingredientes tóxicos, nocivos ou suspeitos em sua composição. Normalmente, um produto muito barato, possui ingredientes baratos de baixa qualidade. Ele pode sim ser vegano (não ter ingredientes de origem animal e nem ser testado em animais), mas poderá ser extremamente nocivo. Portanto, se você é vegan@ ou simpatizante da causa, prefira os produtos que sejam veganos E atóxicos (natural ou limpo).
6. Cruelty-free
Produtos que não compactuam com nenhum tipo de crueldade animal, mais especificamente, que não tenham sido testados em animais. Para se encaixar nesta categoria, é importante que esses testes também não aconteçam entre os fornecedores. Ou seja, tanto o produto final como os ingredientes de sua composição não foram testados em animais. Aqui entra um assunto mais polêmico. Para as certificadoras de produtos e ingredientes naturais e orgânicos, o uso de cera de abelha ou geléia real, por exemplo, é permitido e não considerado crueldade. Mas vemos a seguir que isso pode ser diferente:
Pelo PETA: O selo Cruelty Free garante que todos os ingredientes bem como o produto final não foram testados em animais. O termo em inglês “cruelty free’ significa, literalmente, livre de crueldade. Para ser considerada “livre de crueldade” no programa Beleza Global Sem Coelhos da PETA, uma empresa não deve apenas proibir os testes em animais, mas também se recusar a usar qualquer ingrediente de origem animal, como mel, cera de abelha ou carmim, em seus produtos.
Selo Not tested on Animals: Produtos cosméticos, higiene pessoal e de limpeza doméstica sem teste em animais, tanto o produto final como os ingredientes de sua composição, por pelo menos 5 anos. Além disso, devem vender produtos para consumidores australianos online e / ou no varejo, ter um ABN (ou equivalente para empresas offshore), um endereço de e-mail comercial e um site operacional, não vender em lojas de varejo na China continental. Por não ser uma certificação de produto vegano e sim, sem crueldade e teste em animais, o CCF aceita os seguintes ingredientes derivados de animais: mel, cera de abelha, própolis, lanolina, derivados do leite.
7. Clean Beauty / Beleza limpa
Não se esquiva de ingredientes sintéticos ou criados em laboratório, mas devem ser atóxicos e seguros para o ser humano e não poluentes para a natureza. Através da biotecnologia, obtém os benefícios da natureza sem usar os recursos naturais. Beleza limpa é sinônimo de beleza atóxica e biocompatível, ou seja, a pele e o corpo podem processar e aceitar aquele produto. Embora “cosméticos limpos” também não sejam regulamentados e esta definição foi criada pelo próprio mercado em si, muitos equiparam o termo com cosméticos seguros e eficientes.
8. Blue Beauty / Beleza Azul
Você sabia que até 2050 poderemos ter mais plástico do que peixes no mar? Dados como esses levaram a americana Jeannie Jarnot – fundadora e CEO da Beauty Heroes – a criar o movimento do Blue Beauty, ou beleza azul. Este conceito envolve toda e qualquer iniciativa da indústria e marcas de beleza em defesa dos oceanos.
9. Upcycled Beauty
Resgatando o termo da moda “upcycling”, onde reutiliza peças, descartes ou partes de peças para criar uma nova peça, na beleza é parecido: é transformar subprodutos da indústria de alimentos, que foram ou seriam descartados, em potentes ingredientes cosméticos. O upcycling dá vida nova a cascas, bagaços, borras de café e até água. Além de ser uma prática sustentável, permite extrair nutrientes importantes para a pele e cabelo. Não estamos falando aqui do DIY. Estamos falando de uso industrial, do uso da tecnologia para criar insumos altamente eficazes com subprodutos de alimentos.
A Beleza Consciente veio pra ficar
Já deu pra entender a quantidade de opções que temos hoje no mercado, certo? E que com tantas opções e falta de determinadas regulamentações, a escolha pode ser difícil. Por isso, prefira comprar de lojas e sites que já tenham feito esta seleção e curadoria prévia para você. Vai economizar muito tempo, dinheiro e dor de cabeça.
Mas uma coisa é certa: independente da linha que escolha, tire de uma vez por todas os ingredientes tóxicos de sua lista de produtos de beleza. Temos hoje, centenas, milhares de opções de produtos de higiene pessoal, perfumaria, cuidados íntimos, capilares, skincare, maquiagem. Ou seja, dá pra substituir absolutamente tudo e lembre:
Pesquise sempre. Respire fundo.
Escolha produtos com consciência.
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